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A Última Noite do Sr. Vicente"

  • Foto do escritor: Magvania P. Nunes
    Magvania P. Nunes
  • 19 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de ago.



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A notícia



 

Isadora acordou com o sol batendo em seu rosto.  Era um dia lindo, perfeito para um café da manhã tranquilo antes de mais um dia de trabalho na mansão.  Bocejou, espreguiçando-se antes de se levantar.  A rotina era sempre a mesma: café, um rápido penteado e rumo ao trabalho.  Enquanto preparava o café, ligou a televisão, um hábito que tinha adquirido recentemente.  Os canais locais exibiam as mesmas notícias de sempre, mas hoje algo diferente chamou sua atenção.

A xícara de porcelana estilhaçou-se no chão, o café espalhando-se como um prenúncio de tragédia.  Na tela da televisão, a imagem do Sr. Vicente, o gentil dono da mansão onde Isadora trabalhava, era mostrada como uma vítima.  A notícia a atingiu como um soco no estômago.  Ela, a última a vê-lo vivo, sentia-se presa em um pesadelo. A notícia bombástica invadiu sua mente, silenciando o barulho da televisão. 

 Isadora se sentiu tonta. 

A lembrança da noite anterior surgiu nítida: Na noite anterior, depois de terminar seu trabalho, antes de Isadora seguir para casa.  ela o havia cumprimentado na porta principal, trocando algumas palavras sobre o tempo.  Ele parecia bem, sorrindo e desejando uma boa noite.  Ela se lembrava de tudo com clareza assustadora.  Depois disso, ela havia ido diretamente para casa, sem presenciar nada de anormal.

Nada de anormal, nada que pudesse prever o horror que a esperava na manhã seguinte.

 

Sem hesitar, Isadora pegou as chaves do carro.  Não havia tempo para ligações, para explicações.  Ela precisava ir até lá, ver com seus próprios olhos.

 

 

A viagem até a mansão foi um borrão. Ela não viu chegando na mansão só quando o carro parou. O cenário era de puro caos.  Policiais, investigadores, curiosos – uma colmeia de atividade frenética.  Isadora se sentiu pequena, insignificante diante daquela tragédia. Não  conseguiu se aproximar da área isolada pela fita amarela, onde um grupo de policiais se concentrava. 

  Isadora, parada a distância, observava a cena com um misto de horror e incredulidade.  As lágrimas rolavam pelo seu rosto.  A imagem de Sr. Vicente, sempre tão amável, tão gentil, contrastava brutalmente com a brutalidade da cena.  Ela não conseguia compreender, não conseguia aceitar.

 

O choro a consumia, uma dor profunda que a deixava sem ar.  A pergunta ecoava em sua mente: por quê?  Por que alguém faria isso com ele?  O que tinha acontecido?

 

De repente, uma mão pousou em seu ombro.  Daniel, seu namorado, estava ali, seu rosto preocupado.  Sem palavras, ela se agarrou a ele, o choro convulsivo sacudindo seu corpo.

 

— Calma, meu amor… Calma… — Daniel sussurrava, abraçando-a com força.

 

Ele a levou para casa, a acomodou na cama, e a deixou dormir, exausta e devastada.

 

O despertador tocou na manhã seguinte, um som cruel que a arrancou de um sono agitado e cheio de pesadelos.  Antes mesmo que pudesse processar completamente o que estava acontecendo, o telefone tocou.  Era um policial, a voz formal e direta.

 

— Senhorita Isadora, bom dia.  Precisa comparecer à mansão hoje de manhã para prestar depoimento.  A família do Sr. Vicente, os funcionários… todos serão ouvidos.  Sua presença é obrigatória.

 

Isadora sentiu um nó na garganta.  O depoimento.  A investigação.  A lembrança da noite anterior, da última vez que vira Sr. Vicente, ecoava em sua mente.  Ela se lembrava de tudo com uma clareza dolorosa.  A conversa amigável, o sorriso gentil, o adeus na porta.  E agora, a tragédia.

 

Na mansão, um jovem detetive, Pedro, esperava por ela.  Ele era diferente dos outros policiais, mais jovem, com um olhar atento e uma postura profissional, mas ao mesmo tempo, havia uma gentileza em seu olhar.

 

— Senhorita Isadora, obrigado por comparecer.  Sabemos que está abalada, mas seu depoimento é crucial para a investigação.  Por favor, conte-nos tudo o que se lembra da noite passada, desde o momento em que deixou Sr. Vicente até chegar em casa.  Não deixe nenhum detalhe de fora, por menor que pareça.

 

Isadora respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos.  Ela relatou tudo, cada detalhe, cada pequena lembrança, enquanto o detetive Pedro anotava cuidadosamente cada palavra.  Ele a interrompia apenas para esclarecer alguns pontos, sua voz suave e paciente, um contraste com o clima pesado que pairava no ambiente.

 

O depoimento foi longo e exaustivo, mas Isadora sentiu que estava colaborando, que estava fazendo sua parte para descobrir a verdade sobre a morte do Sr. Vicente.  Ao sair da mansão, sentiu um misto de alívio e apreensão.  A investigação estava apenas começando, e ela sabia que ainda tinha muito a enfrentar.  Mas, ao menos, tinha colaborado, e a presença do jovem detetive Pedro lhe dera um pouco de esperança.  A esperança de que a verdade viesse à tona, e que a memória do Sr. Vicente fosse honrada.

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