Ronan e os segredos escondidos através das pedras
- Magvania P. Nunes
- 15 de set.
- 4 min de leitura

Ruínas Silenciosas: Elara Revela os Segredos da Cidade Submersa
Elara apontou para uma estátua parcialmente enterrada na areia, sua superfície coberta de conchas e algas. “Estas pessoas, Ronan, eram orgulhosas. Mestres da engenharia, da magia e da navegação. Eles acreditavam que eram superiores à própria natureza, que poderiam desafiá-la e controlá-la à sua vontade.”
“Eles construíram esta cidade, esta maravilha de engenharia, tão perto do mar, sem respeito pelas forças da natureza. Eles expandiram sua cidade, construindo cada vez mais perto da água, sem considerar os perigos. Ignoraram os sinais de alerta, os pequenos tremores de terra, as mudanças nas marés. Sua arrogância os cegou.”
“Então, o mar respondeu. Primeiro, com pequenas inundações, que eles conseguiram controlar com suas engenharias. Mas as inundações foram se tornando mais frequentes, mais violentas. As tempestades tornaram-se mais intensas, as marés mais imprevisíveis. A terra começou a tremer com mais frequência, e rachaduras começaram a aparecer nas fundações da cidade.”
“O pânico se espalhou. Eles tentaram construir diques e barreiras, mas a fúria do mar era implacável. As inundações se tornaram cada vez mais devastadoras, engoliram partes da cidade, destruindo casas e templos. Muitos tentaram fugir, mas o mar os impedia, levando suas embarcações e seus sonhos.”
Elara parou, observando a expressão de Ronan, que ouvia atentamente. “A cidade foi engolida gradualmente, um pouco a cada tempestade, a cada maré alta. Os habitantes, uma vez poderosos, tornaram-se refugiados em suas próprias ruas, lutando pela sobrevivência. Alguns morreram nas inundações, outros sucumbiram à fome e à doença.”
“E os que sobreviveram?” Ronan perguntou, sua voz carregada de compaixão.
“Eles se tornaram os Sombra-Caminhantes,” Elara respondeu, sua voz baixa e grave. “Criaturas das marés e escuridão eles são como fantasmas que sao, alimentadas pela dor e pela desesperança. Presos para sempre à cidade que os engoliu, guardando os segredos de uma civilização perdida.” Ela olhou para Ronan, seus olhos cheios de tristeza. “Sua história é um aviso, Ronan. Um aviso sobre o poder da natureza e a importância do respeito.”
Elara apontou para uma série de câmaras inundadas, parcialmente obscurecidas pela areia e sedimentos. "Veja, Ronan, estas eram as casas, os templos, os mercados... lugares de vida, de alegria, de celebração. Agora, são túmulos silenciosos." A luz suave dos cogumelos bioluminescentes refletia na água turva, criando uma atmosfera fantasmagórica.
"À medida que as inundações se tornaram mais frequentes e violentas, os habitantes da cidade se tornaram refugiados em suas próprias casas. Imagine, Ronan, o terror de ver sua casa, seu lar, sendo engolida pela água, de sentir a terra tremer sob seus pés. A cada maré alta, mais e mais partes da cidade eram inundadas, forçando as pessoas a se deslocarem para áreas mais altas, buscando refúgio em templos e palácios."
"Eles se aglomeravam em grupos, compartilhando o pouco de comida e água que restava. A fome e a doença se espalharam rapidamente, enfraquecendo-os, minando suas esperanças. A cada dia, a situação ficava mais desesperadora. A cidade que outrora representava poder e prosperidade, agora era um símbolo de sofrimento e desespero."
Elara parou, observando a reação de Ronan. "Mas a transformação em Sombra-Caminhantes não foi imediata. Foi um processo lento, doloroso, alimentado pela desesperança e pela dor. A água, contaminada pela magia e pelo sofrimento, começou a mudar aqueles que nela viviam. Seus corpos se adaptaram, suas mentes se obscureceram."
"Eles perderam a humanidade, Ronan. A dor e a desesperança os consumiram, transformando-os em sombras distorcidas. Eles se tornaram criaturas obscuras, ligados para sempre à cidade que os engoliu, guardando os segredos de uma civilização perdida. Sua própria cidade se tornou sua prisão, sua maldição."
Ronan, visivelmente comovido pela história, perguntou: "Mas como eles sobreviveram? Como eles se adaptaram a esse ambiente hostil?"
"Vou ti conta como eles se adaptaram, Ronan. Eles aprenderam a respirar debaixo d'água, a se alimentar de criaturas marinhas, a utilizar a própria magia da cidade para sobreviver. Mas a adaptação teve um preço. Eles perderam sua humanidade, sua alma. Em troca da sobrevivência, eles se tornaram sombras, espectros que vagam pelas ruínas de sua antiga glória." Elara suspirou. "Sua história é um aviso, Ronan, um conto de advertência sobre a arrogância e a fúria da natureza."
Enquanto nadavam pelas ruínas da cidade submersa, Ronan, intrigado pela menção aos Sombra-Caminhantes, interrompeu o silêncio:
"Elara, por que eles são chamados de Sombra-Caminhantes? O que esse nome significa?"
Elara parou por um momento, observando as figuras esqueléticas que se moviam lentamente nas sombras. "O nome, Ronan, reflete sua própria natureza. Eles são sombras, seres quase incorpóreos, que vagam pelas ruínas da cidade. Eles são invisíveis à maioria, se misturando às sombras e à escuridão das profundezas."
"Sua existência é um reflexo da própria cidade, uma lembrança fantasmagórica de uma civilização perdida. Eles são as sombras do passado, os fantasmas que guardam os segredos da cidade submersa. E eles caminham, Ronan, eternamente presos às ruínas, vagando sem descanso."
Ronan, em seguida, mudou de assunto, sua curiosidade se voltando para a própria Elara e seu conhecimento sobre ele:
"Elara, como você sabia sobre mim? Sobre minha
habilidade de 'ouvir as pedras'?"
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