Ronan e os segredos escondidos através das pedras 5
- Magvania P. Nunes
- 29 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de out.
Capítulo 16

Os habitantes da cidade submersa
Elara descreveu os habitantes da cidade antes da tragédia como pessoas de beleza singular, com traços delicados e olhos brilhantes, reflexo de uma vida vibrante e próspera. "Eles eram altos e esguios, Ronan, com cabelos longos e fluidos, muitas vezes adornados com conchas e pedras preciosas. Suas roupas eram leves e elegantes, tecidas com fios de seda e decoradas com intrincados bordados. Eles possuíam uma aura de serenidade e confiança, uma expressão de orgulho em seus rostos."
A transformação, segundo Elara, foi gradual e horrível. "A água contaminada começou a mudar suas formas, Ronan. Sua pele ficou pálida e translúcida, quase como se fossem feitos de água. Seus cabelos perderam o brilho, tornando-se escuros e emaranhados como algas. Seus olhos, outrora brilhantes, agora brilhavam com uma luz fria e sinistra, sem vestígios de humanidade."
"Eles se tornaram esqueléticos, Ronan, seus corpos magros e alongados, como se estivessem sendo constantemente moldados pela água. Em alguns, partes do corpo se fundiram com corais e conchas, tornando-os quase indistinguíveis das criaturas marinhas que habitavam a cidade submersa. Suas expressões faciais se tornaram fixas, vazias, sem emoção, apenas um reflexo da dor e da desesperança."
Ronan, ao ouvir a descrição de Elara, ficou profundamente comovido. Sua expressão era uma mistura de tristeza, compaixão e horror. Ele parou para observar uma das figuras parcialmente cobertas pela areia, seus olhos fixos na descrição feita por Elara.
"Elara," ele disse, sua voz baixa e rouca, "essa história... é horrível. A transformação deles... a perda de sua humanidade..."
"Sim, Ronan," Elara respondeu, sua voz carregada de emoção. "É uma história de tragédia, de arrogância e de fúria da natureza. Mas também é uma história de adaptação, de sobrevivência, mesmo que essa sobrevivência tenha custado sua alma."
Ronan, compreendendo a profundidade do sofrimento dos antigos habitantes da cidade, sentiu uma profunda empatia por Elara. Ele sabia que a história não era apenas um relato de eventos passados, mas também um reflexo das emoções e experiências de Elara, que carregava consigo a responsabilidade de proteger os segredos da cidade submersa.
"Elara," Ronan disse suavemente, colocando uma mão em seu ombro. "Você carregou esse peso por tanto tempo. Contar essa história... deve ter sido muito difícil."
Elara olhou para Ronan, seus olhos cheios de tristeza. "É uma responsabilidade, Ronan. Uma responsabilidade de lembrar, de aprender com o passado, para que não repitamos os erros do passado." Ela respirou fundo, procurando recuperar a compostura. "Mas também é uma forma de libertação. Contar a história, compartilhar o peso, torna a carga mais leve."
Elara não descobriu a história da Cidade Submersa por acaso. Sua família, por gerações, foi guardiã dos segredos da cidade perdida. A tradição era passada de mãe para filha, através de relatos orais, mapas antigos, e artefatos enigmáticos. Elara, desde criança, foi imersa nessa história, aprendendo a decifrar os símbolos antigos, a interpretar os mapas incompletos e a compreender a complexa mitologia que envolvia a cidade submersa.
"Ronan," Elara começou, enquanto nadavam por um corredor estreito, "minha família é guardiã dos segredos da Cidade Submersa há séculos. A tradição foi passada de geração em geração, através de relatos orais, mapas antigos e artefatos enigmáticos."
"Minha avó, uma mulher sábia e poderosa, me contou essa história pela primeira vez quando eu era criança. Ela me mostrou os mapas antigos, os fragmentos de cerâmica, os mosaicos desbotados... Ela me ensinou a decifrar os símbolos, a interpretar as lendas, a compreender a história da cidade e de seus habitantes."
"Ela me explicou que a cidade não foi simplesmente engolida pelo mar. Foi um processo lento, doloroso, que se estendeu por gerações. A arrogância dos habitantes, sua falta de respeito pela natureza, os levou à ruína. Minha avó me ensinou que a história da Cidade Submersa é uma lição, um aviso sobre as consequências da nossa relação com o mundo natural."
"Ela me mostrou também os artefatos que os habitantes deixaram para trás. Objetos de beleza e poder, mas também objetos que carregavam a dor e o sofrimento de um povo que perdeu tudo. Esses objetos, Ronan, me ajudaram a compreender
a profundidade da tragédia."





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