O mundo de Laura: Descobertas da adolescência e o primeiro amor
- Magvania P. Nunes
- 3 de set.
- 5 min de leitura

A Sombra da Mangueira: Um Amor Inesperado
Laura respirou fundo, sentindo o ar gélido da noite abraçar sua pele. Precisava urgentemente desabafar, e Gui sempre fora seu confidente. Pegou o celular e enviou uma mensagem: "Preciso te ver. Pode ser agora?". A resposta veio num instante: "No nosso lugar de sempre. Te espero".
Enquanto caminhava para o lugar secreto dos dois, um banco escondido sob a sombra de uma mangueira centenária, Laura revivia a conversa com Pedro. As palavras dele, o toque suave em seu rosto, tudo girava em sua mente como um carrossel desgovernado. O cheiro adocicado do perfume de Pedro ainda pairava em suas narinas, misturando-se à brisa fresca da noite.
Gui já estava lá, sentado no banco, com um sorriso acolhedor no rosto. "Aconteceu alguma coisa?", ele perguntou, a preocupação vincando sua testa. Ele já pressentia sobre o que seria a conversa; a tensão no ar era quase palpável.
Laura se sentou ao lado dele e começou a relatar os acontecimentos da noite. Contou sobre a visita de Pedro, a declaração inesperada, o beijo na bochecha e a fuga pela janela. A cada detalhe, o rosto de Gui se tornava mais sério, seus olhos antes brilhantes agora sombrios.
"Ele disse que está apaixonado, Gui! Apaixonado!", Laura exclamou, incrédula. Seu coração batia descompassado, e suas mãos tremiam levemente.
Gui assentiu, esperando que ela continuasse. O som dos grilos parecia ensurdecedor em meio ao silêncio que se formava.
"Eu não sei o que fazer. Gosto dele, mas não sei se estou pronta para um relacionamento", confessou, as mãos tremendo levemente, os olhos marejados buscando apoio nos de Gui.
Gui a encarou com ternura. "Calma, Laura. Você não precisa decidir nada agora. Pedro vai entender se você precisar de tempo", disse, reconfortante. Sua voz era suave, mas firme, transmitindo segurança.
Laura suspirou. "Eu sei, ele disse que seria paciente. Mas me sinto tão confusa. Não quero magoá-lo, mas também não quero me forçar a nada", explicou, o olhar perdido nas folhas da mangueira, como se buscasse uma resposta entre elas.
Gui pegou sua mão e a apertou. "Você tem o direito de sentir o que sente, Laura. Não se culpe por isso. O importante é ser honesta consigo mesma e com ele", disse, olhando em seus olhos. Seus dedos roçaram suavemente os dela, um toque que sempre a acalmava.
Laura sorriu, grata. "Obrigada, Gui. Você sempre sabe o que dizer".
"Sempre estarei aqui para você", respondeu, apertando sua mão com carinho. Um arrepio percorreu o corpo de Laura com a proximidade.
Um silêncio se fez presente, quebrado apenas pelos grilos e o vento nas folhas. Laura sentiu o olhar de Gui, diferente, mais intenso. Um calor estranho subiu pelo seu corpo.
"Laura...", ele começou, hesitante, pigarreando levemente. "Lembra quando te disse que gostava muito de você?".
Laura franziu a testa. "Sim, você disse que éramos melhores amigos e que me amava como irmã", respondeu, sem entender a onde ele queria chegar. Sua voz saiu hesitante, como se temesse a resposta.
Gui respirou fundo, como se juntasse coragem. "Não foi exatamente isso que eu quis dizer, Laura. Eu... eu estava tentando te dizer que estou apaixonado por você", confessou, em um sussurro quase inaudível. Seus olhos fixos nos dela, buscando uma reação.
Laura arregalou os olhos, surpresa. "Apaixonado? Mas... eu não entendi. Por que nunca disse nada?", gaguejou, atônita. Seu corpo ficou tenso, e um nó se formou em sua garganta.
Gui sorriu, triste. "Eu sei. Imaginei que não tinha ficado claro. Tive medo de estragar nossa amizade. Mas precisava que soubesse, antes que fosse tarde demais", disse, olhando para o chão, envergonhado.
O silêncio voltou, carregado de tensão. Laura não sabia o que dizer. Seu melhor amigo, a pessoa que sempre esteve ao seu lado, era apaixonado por ela. E ela nunca percebeu. O cheiro da grama úmida invadiu suas narinas, intensificando a confusão em sua mente.
"Gui, eu... eu não sei o que dizer", murmurou, sentindo o rosto corar. As palavras pareciam ter sumido, deixando-a muda e perplexa.
"Não precisa dizer nada agora, Laura. Eu só queria que soubesse o que eu sinto e sempre senti por você. " disse, tentando disfarçar a tristeza e a decepção. Sua voz tremia levemente, denunciando seus verdadeiros sentimentos.
Laura o encarou, sentindo um nó na garganta. Como esquecer? Como ser amiga de alguém apaixonado por ela, sabendo que seus sentimentos não eram os mesmos? A brisa da noite tocou seu rosto, trazendo consigo um calafrio.
"Eu preciso de um tempo para pensar, Gui. Preciso entender tudo isso", disse, levantando-se do banco. Seus joelhos estavam fracos, e ela se sentia tonta.
Gui assentiu, compreensivo. "Eu entendo, Laura. Vá com calma. E saiba que sempre estarei aqui, não importa o que você decida", disse, sincero. Seus olhos a seguiam enquanto ela se afastava.
Laura se virou e começou a caminhar, deixando Gui sob a mangueira. Seus pensamentos estavam um caos, seu coração em conflito. O som de seus passos na grama parecia ecoar em sua mente.
"Lembra daquele dia que te convidei para ir ao cinema? Aquele filme que você tanto queria ver?", Gui perguntou, quebrando o silêncio.
Laura parou, confusa. "Lembro... Mas pensei que fosse como sempre, um programa de amigos", respondeu, hesitante. Sua voz saiu quase como um sussurro.
Gui suspirou. "Eu queria que fosse diferente, Laura. Queria que fosse um encontro, um sinal de que eu queria algo mais. Mas você nunca percebeu...", disse, a voz carregada de tristeza. A luz da lua refletia em seus olhos, revelando a dor que ele tentava esconder.
Laura sentiu um aperto no peito. Como pôde ser tão cega? Como não percebeu os sinais? Uma onda de culpa a invadiu.
"E agora... agora o Pedro te diz que está apaixonado por você. E eu aqui, escondendo meus sentimentos há tanto tempo, vendo você gostar de outro", Gui continuou, a voz embargada. Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.
Laura se virou para ele, os olhos marejados. "Gui, me desculpa. Eu nunca imaginei... Se soubesse, teria sido diferente", disse, sentindo-se culpada. Sua voz embargada mal saiu.
"Não se culpe, Laura. A culpa não é sua. Eu que não tive coragem de ser mais claro, de lutar pelo que sentia", respondeu, tentando sorrir, mas falhando miseravelmente. Seus ombros caíram, e ele parecia menor sob a luz da lua.
Laura se aproximou de Gui e o abraçou forte. "Eu preciso de um tempo para pensar em tudo isso. Mas saiba que eu valorizo muito a nossa amizade, Gui. Você é muito importante para mim", disse, sincera. Seu corpo tremia com a intensidade das emoções.
Gui retribuiu o abraço, apertando-a contra si. "Eu sei, Laura. E eu também valorizo muito a nossa amizade. Mas precisava que você soubesse a verdade, mesmo que doesse", disse, a voz abafada pelo abraço. O cheiro de terra molhada e das folhas da mangueira invadiu suas narinas, trazendo à tona lembranças de tantos momentos compartilhados.
Laura se afastou, enxugando as lágrimas. "Eu preciso ir, Gui. Preciso pensar", disse, virando-se para ir embora. Seus pés pareciam pesar toneladas.
"Laura...", Gui a chamou, antes que ela pudesse se afastar. "Só mais uma coisa... Não tenha medo de se permitir sentir, Laura. Não tenha medo de se entregar ao amor, seja ele qual for. A vida é muito curta para vivermos com arrependimentos", disse, com um olhar profundo e cheio de esperança.
Laura assentiu, sentindo as palavras de Gui tocarem seu coração. Virou-se e partiu, deixando Gui para trás, sob a luz da lua. Seus pensamentos estavam mais confusos do que nunca, mas uma nova esperança havia surgido em seu peito. Talvez, no meio de toda aquela confusão, ela pudesse encontrar o caminho para a felicidade, e quem sabe, um novo amor. O som dos grilos a acompanhou em seu caminho, como uma melodia melancólica.
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