"Meu Apê, Minhas Regras (e Minhas Contas)" Lia está morando sozinha agora...
- Magvania P. Nunes
- 21 de ago.
- 3 min de leitura

A barata ninja
O sol raiou forte, batendo diretamente na janela do minúsculo apartamento de Lia. Ela acordou com um estrondo – o barulho de uma panela caindo no chão da cozinha, resultado de uma barata gigante que havia decidido fazer um tour matinal pelos seus poucos utensílios.
— AAAAH! — Lia gritou, pulando da cama e quase derrubando a pilha precária de roupas que servia como criado-mudo. A barata, impávida, continuou sua jornada rumo à liberdade.
— Bom dia para você também, criatura! — Lia resmungou, pegando uma das suas três facas (a menor, obviamente) para enfrentar a invasora. A luta foi épica, digna de um filme de terror B, com direito a perseguição frenética por trás do fogão e uma quase queda da faca na panela de arroz que ela havia deixado para cozinhar.
Finalmente, vitoriosa, Lia afugentou a barata para fora do apartamento, fechando a porta com um estrondo e um suspiro de alívio. O arroz, porém, havia queimado.
— Pelo menos a barata não comeu, né? — ela comentou, olhando para a panela com uma mistura de tristeza e humor negro.
O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Era Clara.
— Lia, você está bem? Eu ouvi um grito. Achei que tinha acontecido um terremoto! — Clara disse, sua voz cheia de preocupação.
— Foi quase isso, amiga. Uma barata ninja tentou dominar meu reino, mas eu venci! — Lia respondeu, orgulhosa. — Só que o meu arroz virou carvão.
— Que dia, hein? Mas olha, eu estava pensando… hoje é sexta-feira, né? A gente pode comemorar sua independência com uma pizza depois do trabalho!
— Pizza? Você lê mentes? — Lia exclamou, animada. — Eu topo! Mas você paga, né? Meu orçamento está mais apertado que a minha cintura depois de três meses sem comer direito.
— Relaxa, eu pago! — Clara respondeu, rindo. — Considera isso um investimento na sua nova vida de adulta independente. E uma forma de comemorar sua vitória sobre a barata.
— Combinado! Heroína da cozinha, pizza na sexta! A vida é boa! — Lia exclamou, sentindo-se mais animada.
Depois de um dia exaustivo no trabalho, Lia e Clara se encontraram perto do apartamento. A pizza, generosa e deliciosa, foi o ponto alto da noite. Sentadas no chão, rodeadas de caixas de papelão e utensílios de cozinha, elas riram, compartilharam histórias e planejaram o futuro.
— Sabe, Lia, — Clara disse entre uma mordida e outra, — você é mais corajosa do que eu pensava. Morar sozinha aos 17 anos... Isso é para poucos.
— É, mas eu tenho a melhor amiga do mundo para me apoiar! — Lia respondeu, sorrindo. — E uma faca de açougueiro para enfrentar baratas ninjas.
— Não se esqueça disso! — Clara riu, batendo o punho na mesa improvisada que elas haviam criado com um pedaço de madeira e um livro.
A noite terminou com Lia sentindo-se mais confiante e feliz do que nunca. Seu apartamento ainda era pequeno, suas posses escassas, e as baratas ainda eram uma ameaça constante, mas ela tinha sua amiga, seu trabalho, e a sensação maravilhosa de ter construído seu próprio lar, mesmo que fosse um lar um pouco… peculiar. E isso, ela sabia, era algo inestimável.
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