"Meu Apê, Minhas Regras (e Minhas Contas)" Lia está morando sozinha agora...
- Magvania P. Nunes
- 16 de nov.
- 4 min de leitura
Capítulo 15

O Napoleão, gato fujão
Lia desligou o telefone com um sorriso torto. “Napoleão, o gato fujão, e eu aqui, travando uma guerra fria com a barata... A vida é uma comédia, só falta a trilha sonora,” murmurou, enquanto calçava seus chinelos de coelhinho, um presente da própria Clara.
Antes de partir para a aventura felina, Lia sentiu a necessidade de ter uma conversa franca com sua inquilina indesejada. Afinal, não era todo dia que se deixava uma barata responsável pela segurança do lar.
"Escuta, Baratinha", começou Lia, com a vassoura apoiada no ombro como se fosse uma espingarda. "Eu vou sair para procurar o gato da minha amiga, mas preciso que você fique de olho na casa. Sem festinhas, sem convidados, sem usar meus pratos como pista de skate, entendeu?"
A barata, como de costume, respondeu apenas com um movimento sutil das antenas. Lia interpretou isso como um "sim, senhora" baratesco.
"Ótimo. E se por acaso algum ladrão invadir o apartamento, use seus superpoderes de barata para assustá-lo. Se precisar, pode usar a faca de açougueiro. Mas, por favor, não a suje", instruiu Lia, com um tom sério.
Lia respirou fundo, sentindo-se um pouco ridícula por dar ordens a uma barata. Mas, no fundo, ela confiava na sua nova amiga (ou, pelo menos, tolerava a sua presença).
Lia pegou uma sacola de pano surrada, e colocou uma vasilha. “Vai que a gente encontra o Napoleão faminto? Pelo menos temos onde servir a ração,” pensou, rindo da própria ideia.
"Bom, é isso. Até mais tarde, Baratinha. E, por favor, não coma toda a minha comida enquanto eu estiver fora", disse Lia, saindo do apartamento e fechando a porta atrás de si.
Chegando ao prédio de Clara, Lia estava com a vassoura a tiracolo, causando estranhamento nos vizinhos que cruzavam o corredor. “Acho que vou começar a cobrar ingressos para as minhas performances matinais”, pensou, enquanto batia na porta do apartamento de Clara.
Lia sentiu o cheiro forte de desinfetante no corredor. “Clara deve ter surtado e limpado tudo na esperança de atrair o gato de volta,” pensou.
Ao entrar no apartamento, encontrou Clara em prantos, sentada no sofá, rodeada por brinquedos de gato e potes de ração vazios. O apartamento, geralmente impecável, estava uma bagunça organizada, com almofadas fora do lugar e um rastro de pelos de gato.
Clara em um estado de desespero cômico. Estava vestida com uma roupa estampada de gatinhos, um par de orelhas felpudas e um colar com um pingente de peixe.
“Clara, o que é isso? Vai se apresentar em um musical da Broadway?”, perguntou Lia, tentando conter o riso.
“Silêncio! Estou tentando entrar na mente do Napoleão! Se eu pensar como um gato, agir como um gato e me vestir como um gato, talvez ele me encontre!”, respondeu Clara, com um olhar determinado.
Lia revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso. “Entendo... Mas acho que você está exagerando um pouco. Que tal começarmos a procurar pelo bairro e gritarmos o nome dele? É mais eficiente do que se fantasiar de árvore de Natal felina.”
Clara suspirou, derrotada. “Você tem razão. Mas eu estou tão desesperada! O Napoleão é como um filho para mim!”, lamentou, com os olhos marejados.
“Eu sei, amiga. Mas vamos encontrá-lo. Tenho certeza de que ele não foi muito longe”, disse Lia, abraçando a amiga.
“Eu não sei o que fazer!” Clara soluçava, o rosto vermelho e inchado.
“Calma, Clara! Vamos encontrá-lo. Ele não deve ter ido longe. É um gato, não um explorador polar.”
“Lia, achei que ia me deixar aqui, afogada em lágrimas e ração de salmão”, disse clara desolada .
“Jamais! Mas me explica essa vassoura. Vai espantar o Napoleão de volta pra casa?”, perguntou Lia, rindo.
Clara franziu a testa. “Não sei, você que trouxe! Achei que fosse algum plano mirabolante para atrair o Napoleão de volta”, respondeu, confusa.
Lia olhou para a vassoura, como se a estivesse vendo pela primeira vez. “Ah, é verdade! Esqueci que estava com ela. É que eu estava em guerra com uma barata e... deixa pra lá. O importante é que agora temos uma arma para nos defender de qualquer perigo”, explicou, tentando disfarçar o constrangimento.
Clara revirou os olhos. “Tá bom, Lia. Mas vamos focar no Napoleão. Já liguei para todos os veterinários e abrigos da região. Ninguém viu um gato com nome de imperador por aí”, disse, suspirando.
“Não se preocupe, vamos encontrá-lo. Napoleão é um gato esperto, ele deve estar por perto, tramando algum plano para dominar o mundo”, respondeu Lia, tentando animar a amiga.
Clara, com olheiras profundas e um olhar de desespero, respondeu: “Pronta não, desesperada! O Napoleão é como um filho pra mim! Se algo acontecer com ele...”
“Ei, calma! Vamos encontrá-lo! Ele não pode ter ido muito longe”, interrompeu Lia, tentando acalmar a amiga. “Mas me explica uma coisa: por que você não colocou uma coleira com identificação nele? Assim, se ele se perder, alguém pode entrar em contato.”
Clara suspirou. “Eu sei, eu sei... É que ele odeia coleiras! Ele acha que é uma afronta à sua realeza felina. Ele se sente como um rei destronado.”
Lia revirou os olhos. “Ah, claro! Um gato que se acha Napoleão Bonaparte! Só podia ser seu”, brincou.
“Não ria! É sério! Ele é muito dramático”, respondeu Clara, com um tom sério. “Mas vamos logo! Cada minuto conta!”
Clara fungou. “Mas e se ele foi atropelado? E se ele está com fome? E se ele encontrou uma gata e me trocou?”
Lia revirou os olhos. “Clara, ele é um gato! Ele provavelmente está escondido embaixo de um carro, esperando o momento certo para atacar um pombo. Vamos pensar como um gato.”





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