"Meu Apê, Minhas Regras (e Minhas Contas)" Lia está morando sozinha agora...

Capítulo 14

Napoleão pode esperar

O oitavo dia amanheceu com Lia debatendo existencialmente com uma barata teimosa que se recusava a sair do canto da cozinha.

"Sai, criatura! Seu tempo aqui expirou! Já estou até imaginando você fazendo um tour gastronômico nos meus seis pratos!" gritou Lia, armada com uma vassoura velha, mais ameaçadora pela sua idade do que pela sua eficiência.

A barata, como se entendesse perfeitamente, apenas ergueu suas antenas em desafio.

Lia suspirou, derrotada. "Tá bom, fica. Mas se eu te encontrar no meu único copo limpo, a gente conversa."

Após a trégua com a barata, Lia se dedicou à tarefa diária de inventariar seus bens. "Seis pratos... seis garfos... três facas... uma faca gigante para cortar o que, exatamente? Um tronco de árvore? E só três copos! Se eu convidar alguém para tomar um café, terei que lavar a louça na hora, senão a gente bebe em equipe, estilo 'aquele que bebe primeiro ganha'." Ela riu da própria piada, a solidão quebrando em um momento de humor negro.

De repente, o telefone tocou. Era sua amiga, Clara.

"Lia, minha querida! Preciso de um favor gigantesco! Meu gato, o Napoleão, fugiu e eu preciso de ajuda para encontrá-lo. Você está ocupada?"

Lia, sem hesitar, respondeu: "Clara, a única coisa que me ocupa é essa barata que me encara com olhar de desprezo. Napoleão pode esperar? Preciso primeiro resolver essa questão existencial com a barata."

Clara, acostumada com a peculiaridade da amiga, riu. "Ok, ok. Mas depois você vem me ajudar, certo? E talvez traga alguns daqueles seus seis pratos mágicos, porque eu estou sem louça limpa."

Lia concordou, já imaginando a cena: ela e Clara, caçando um gato fugitivo, munidas de vassouras e seis pratos limpos, prontos para servir um chá improvisado caso encontrassem Napoleão. Afinal, com uma amiga assim, quem precisa de mais? A barata, talvez. Mas Lia já havia feito as pazes com e

la. Por enquanto.