"Meu Apê, Minhas Regras (e Minhas Contas)" Lia está morando sozinha agora...
- Magvania P. Nunes
- 14 de ago.
- 3 min de leitura

O Pequeno Apartamento de Lia: Um Espaço de Sonhos e Desafios
Lia, aos 17 anos, encarava a pilha de suas posses com uma mistura de apreensão e determinação. Sua vida inteira cabia ali: uma cama de solteiro desgastada, mas confortável, um fogão de dois queimadores enferrujado, porém funcional, seis pratos descascados, duas panelas rachadas em alguns lugares, seis garfos, seis colheres, três facas pequenas e uma faca de açougueiro herdada da avó, três copos, e um monte de roupas usadas, cuidadosamente dobradas em sacos de plástico. Era tudo o que ela tinha. Mas era o suficiente, pelo menos por enquanto.
Seu apartamento era um pequeno cômodo num prédio antigo, com paredes descascadas e um piso de madeira rangente. Mas tinha uma janela que deixava entrar uma boa dose de luz solar, e isso era tudo o que importava. Lia havia conseguido o lugar com a ajuda de sua amiga, Clara, que trabalhava na administração do prédio.
— Você tem certeza que quer fazer isso, Lia? — Clara perguntou, enquanto ajudava Lia a carregar a cama para dentro do quarto. Clara era alguns anos mais velha, mais experiente, e um pouco mais pragmática.
— Absoluta! — Lia respondeu, com um sorriso que não escondia o nervosismo. — É a minha independência, Clara! Preciso disso.
— Eu sei, eu sei. Só estou preocupada. Você tem certeza que tem tudo o que precisa?
Lia olhou para as suas posses esparsas, espalhadas pelo chão. — Quase tudo. Falta um pouco de organização, mas eu consigo.
— Você vai precisar de mais coisas, Lia. Coisas básicas, pelo menos.
— Eu sei. Mas vou aos poucos. Primeiro preciso me estabilizar. E o trabalho com você está me ajudando muito.
Clara assentiu, compreensiva. As duas trabalhavam como garçonetes num restaurante movimentado, ganhando o suficiente para se sustentarem, ainda que com pouco luxo.
— Você já pensou em como vai fazer as compras? — Clara perguntou, enquanto Lia arrumava a cama.
— Vou fazer uma lista. Vou comprar o essencial: arroz, feijão, macarrão... Coisas que rendem.
— E o gás? Você sabe como funciona isso?
Lia hesitou. — Não, não sei. Vou ter que aprender.
— Posso te ajudar com isso. E com qualquer outra coisa que você precisar. Não se esqueça disso.
— Obrigada, Clara. Você é a melhor amiga do mundo.
— Bobagem. Somos sócios no sofrimento e na luta pela sobrevivência. — Clara riu, mas seus olhos demonstravam preocupação.
Nos dias que se seguiram, Lia se dedicou a organizar seu pequeno espaço. A cama ocupava boa parte do quarto, deixando pouco espaço para se movimentar, mas ela conseguiu criar um cantinho para guardar suas roupas. O fogão foi cuidadosamente instalado, e Lia fez sua primeira refeição ali: um simples macarrão com molho de tomate, preparado com as duas panelas e as facas desgastadas.
— Não está tão ruim assim — Lia disse para si mesma, enquanto saboreava a refeição simples, mas saborosa, sentada no chão, sem uma mesa.
À noite, depois de um longo dia de trabalho, Lia se deitava em sua cama, sentindo a satisfação de ter construído seu próprio espaço, por mais humilde que fosse. O cansaço era grande, mas a sensação de independência era ainda maior. Ela sabia que o caminho seria difícil, cheio de desafios, mas ela estava disposta a enfrentá-los. Afinal, ela tinha sua amiga Clara, seu trabalho, e a força de vontade que a impulsionava para seguir em frente. E isso, para Lia, era mais valioso do que qualquer outro bem material.
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